Cioli Stancioli na Revista iDeia Design – Uma história de traços e cores
Por Ana Cláudia Ulhôa / Volume 06
A paixão:
A paixão pelos traços e cores começou a se manifestar quando ele ainda era uma criança. O talento para as artes parecia algo natural em Cioli Stancioli e se revelava das mais diversas formas já nos primeiros anos de vida. Seus desenhos mais infantis já eram repletos de noções de perspectiva. Até quando aprontava alguma coisa, ele literalmente fazia arte. Como da vez em que entalhou alguns dos tacos que ficavam atrás do sofá, uma estratégia para que sua mãe não o pegasse no pulo. Apesar desse tipo de brincadeira, Cioli conta que sua família nunca deixou de incentivá-lo, o que acabou levando o jovem para o caminho da arquitetura.
Outra passagem da infância que mostra a relação de Cioli com o mundo das artes é quando, aos 11 anos de idade, ele começa a oferecer aos amigos suas “tatuagens de verão”. “Eu tinha pastas com dragões e um tanto de coisas que eu desenhava. Aí eu fazia de canetinha e passava verniz, mas era aquele de porta. Era só esse tipo que eu sabia que tinha. Eu raleava na lata, passava com um rolinho, ficava tudo duro e a pessoa falava assim: sai? Eu respondia: claro que sai”, lembra aos risos.
Segundo Cioli, todas essas brincadeiras aos poucos deram espaço a um trabalho mais sério. Na adolescência, ele passou a oferecer serviços de “decorador de tênis”. De tanto desenhar em calçados de conhecidos, o jovem despertou a atenção de um amigo, que resolveu lhe ensinar técnicas de serigrafia. A partir daí, Cioli emplacou seu primeiro negócio, uma estamparia que começou em sua casa e conquistou vários clientes da moda mineira. “Eu estampava 50 mil peças por mês para marcas como Fourteen, Vide Bula e outras da época”, conta.
Mudança de rumo
Porém, com o passar do tempo, esse trabalho se tornou tão cansativo, que Cioli decidiu mudar o rumo de sua vida. Após conhecer aquela que viria a ser sua esposa e se casar no ano de 2000, os dois partiram para os Estados Unidos em busca de novos desafios e oportunidades. Ao chegar nesse país, Cioli descobriu o que é chamado por lá de landscape. Responsável por cuidar dos jardins de diversas casas, ele acabou descobrindo os setores de decoração e reforma. “Quando eu ia em um condomínio em que eu via um terreno ser preparado e depois de mais ou menos 40 dias eu voltava e via tudo pronto, eu ficava maravilhado”, recorda.
A nossa profissão se resume em uma palavra: servir! Para isso, você tem que ser humilde no sentido de ouvir tudo o que a pessoa tem a dizer e lembrar que o lugar que você vai projetar é da pessoa, e não seu. É ela quem vai morar lá. Você entende?
Daí surgiu o estímulo que faltava para que Cioli tomasse a iniciativa de ingressar nas carreiras de designer e arquiteto. Apesar de ter começado suas atividades ainda nos Estados Unidos, o profissional só se especializou quando retornou ao Brasil, em 2001. Assim que chegou a Belo Horizonte, iniciou um curso técnico de Design de Interiores pelo Instituto de Arte e Projeto (Inap), formando-se em 2004. Em seguida, ele emendou uma graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Fumec, concluída em 2009.
Início do escritório
Ansioso para entrar no mercado brasileiro, Cioli abriu seu escritório já em 2004. Desde então, ele realiza projetos de design de interiores residenciais, comerciais e empresariais, além de trabalhos arquitetônicos. Ele também participa de mostras como Casa Cor, Modernos Eternos e Casa Contêiner. Dentre as características que Cioli destaca em seu trabalho estão a ousadia e a criatividade. “Eu nunca tive medo de nada. O meu primeiro projeto foi do senhor Alberto Rodrigues, e era só para trocar o piso da cozinha, mas eu quebrei o apartamento dele todo. Desfiz de um quarto, fiz uma sala de leitura e troquei a porta de lugar”, diz.
Um exemplo dessa personalidade é o uso de cores nos projetos de interiores. Basta uma rápida olhada no Instagram do seu escritório para perceber a presença de tons alegres e vibrantes. No entanto, Cioli lembra que seu objetivo principal sempre é atender ao cliente. “A nossa profissão se resume em uma palavra: servir! Para isso, você tem que ser humilde no sentido de ouvir tudo o que a pessoa tem a dizer e lembrar que o lugar que você vai projetar é da pessoa, e não seu. É ela quem vai morar lá. Você entende?”, explica.
Processo criativo
Para conseguir chegar a um projeto que atenda às expectativas do cliente, Cioli inicia seu processo de criação com uma boa conversa, que envolve a realização de um questionário e exercícios, como listas de preferências. Depois de entender exatamente o que o cliente quer, o arquiteto parte para a etapa de criação e desenvolvimento do projeto. É aí que sua paixão é resgatada e passa a ser utilizada de forma profissional.
De acordo com Cioli, todos os seus trabalhos são feitos primeiramente de forma manual, através de um desenho ou de uma maquete. Somente depois ele e sua equipe transferem tudo para o computador e geram o arquivo em 3D para o cliente. Ele esclarece que esse é um processo extremamente necessário, afinal, é o mais capaz de captar tudo o que ele pensa. “Não falo que esse é o correto e que o outro está errado. Não é isso. Mas, para mim, o braço, a mão, o lápis são a extensão do pensamento”. O arquiteto ainda completa: “Eu, Cioli, preciso disso”.
Sobre o futuro
Sobre o seu futuro profissional, o arquiteto revela que o que não falta para 2021 são novos projetos. Após retornar de mais uma temporada nos Estados Unidos, Cioli inaugurará um novo escritório que tem como objetivo atender clientes não só da capital mineira, mas de todo o Brasil e quem sabe do mundo. “O que eu espero primeiro é organizar o escritório. Como é que eu vou gerir 70 tabelas? Como eu vou atender o cliente? Então eu vou fazer tudo isso com muita calma. Depois de tudo estruturado, para onde eu posso projetar? Até para os Estados Unidos”, conclui.
Texto referente a matéria publicada na Revista iDeia Design Volume 06. https://ideiadesign.online/magazinebook/volume-06/uma-historia-de-tracos-e-cores/