Casa e Design / MG / 89m² / 2014

Os contêineres são utilizados para o transporte de mercadorias em todo o mundo, sendo responsáveis por aproximadamente 90% de todo o movimento das mesmas de um lado para o outro. Além do tempo de uso ser observado para o descarte dos mesmo, muitas vezes o retorno do contêiner torna-se inviável economicamente, e assim, há um volume considerável de contêineres esperando para serem utilizados. Há um forte apelo de sustentabilidade em seu uso, desde a utilização de material tão nobre descartado (e gerando os chamados cemitérios de contêineres) até a economia de recursos naturais, como areia, tijolo, cimento, água, e, desenvolvimento de uma obra mais limpa, com redução de entulho. Destaca-se ainda a possibilidade do uso de terrenos com perfis diversos, e, um maior respeito ao seu relevo natural, evitando-se interferências muito drásticas. Os contêineres são produzidos obedecendo a um padrão (6 e 12 metros), que permite a modulação e o empilhamento, facilitando o transporte e o planejamento da construção. Porém, esta modulação está longe de impedir a criatividade no seu uso, e, a modulação final pode ainda ser transportada de um lado para outro.

Os contêineres são estruturas de aço extremamente resistentes, que permitem além da modulação destacada acima, o uso de inúmeras soluções para o seu revestimento exterior e interior, criando ambientações para diversos fins como museus, moradias, anexos, já tendo sido utilizado até mesmo para abrigos de pessoas após catástrofes, devido à rapidez no desenvolvimento da obra final e, da fácil habitabilidade. Recebe, a exemplo de construções de alvenaria, soluções para captação de água de chuva, painéis solares, teto verde. Uma grande preocupação de quem imagina os contêineres como moradia, é a questão acústica e  térmica, porém as mesmas soluções estudadas e projetadas nas construções de alvenaria cabem ao uso deste coringa. Destaca-se porém, que estas soluções exigem mão de obra especializada, mas, nem estes custo extras tiram a vantagem destas construções em relação à alvenaria, quando se trata do custo final de obra. A Europa e os Estados Unidos da América já utilizam os contêineres com força total e, de maneira gradativa mas definitiva, esta ideia está chegando ao Brasil.

Assim, para homenagear um casal que adora viajar mundo afora, é vidrado em música e fotografia, vive na presença constante de amigos, bons vinhos e livros, a melhor opção encontrada para a criação de um espaço único, com muitas possibilidades estéticas e funcionais foi a utilização de contêineres para a criação de um belo loft.

O espaço foi projetado com três contêineres no total de 89m2. O projeto seguiu um estilo industrial com força nos acabamentos internos e mobiliário, com peças sofisticadas, além de um excelente projeto de iluminação. Por sua beleza, manteve-se o piso original do contêiner, um compensado naval que se manteve intacto mesmo com o uso intenso, e o teto aparente valorizando a chapa original. Ainda no teto, o “it” ficou por conta da instalação de uma antiga grade de guarda corpo da própria obra, resgatada na caçamba de entulhos pelo profissional. Externamente os contêineres receberam cobertura em manta térmica e telha sanduíche, para proteção térmica e acústica.

O loft abrigou espaços integrados para estar, leitura e música, decorados com amplo sofá em ‘L” que recebeu forração em tecido xadrez 70% PET, tapete de lã antialérgica e painel em MDF madeirado com nichos de tamanhos diversos para livros e adornos, e, rack para TV e som. A mesa de centro foi produzida com chapa de vidro reaproveitada. Posicionadas de frente à ampla janela com estrutura de alumínio e vidro (duas folhas fixas peitoril e duas folhas deslizantes) (que recebeu persianas reutilizadas com nova metragem), a sala de música/leitura e home office recebeu duas poltronas de tecido liso, também desenvolvido com PET, móvel para velhos LP´s (desenho do arquiteto), fotografias de Nova York em quadros do acervo particular, além de belíssima escultura, cabeça, sobre cômoda em marchetaria, tendo ao lado a escultura de Athos, o bom cão, em peças desmontáveis. Já na cozinha, o armário em MDF madeirado contendo um fogão cooktop e bancada em pedra foi encaixado sobre estrutura de aço perfil “i” (antigo resíduo de obra reaproveitado). Esta estrutura recebeu à sua frente ampla bancada para refeições, com banquetas em madeira maciça e assento em telinha. Lateralmente, foi encaixada uma mesa redonda com tampo em vidro reaproveitado e  três cadeiras em couro, acervo pessoal. Na parte anterior da cozinha projetou-se uma janela posicionada na antiga porta de um dos contêineres (com persiana também reutilizada em nova metragem); este lado recebeu ainda a geladeira, eletroeletrônicos e bancada posicionada sob a janela, em pedra com bojo esculpido.

A área em forma de L contígua à cozinha, recebeu forração em MDF madeirado, abrigando a porta de acesso à área de serviço, que recebeu piso em mármore, tanque com bojo esculpido em pedra, máquina de lavar e armários em MDF madeirado. O banheiro social foi encaixado nesta mesma área em L, recebendo piso em mármore e bancada em pedra com bojo de sobrepor, montados em estruturas de aço tubular com roldanas, em estilo industrial, desenho do arquiteto.

A suíte recebeu amplo armário em MDF encaixado no painel da sala de estar. A cama box recebeu painel forrado em lona black (4,60m x 1,20m). As janelas do quarto e banheiro foram posicionadas nas antigas portas dos contêineres (e também receberam persianas reutilizadas com nova metragem). Ao lado da cama, quadros contemporâneos, poltrona de leitura em couro preto brilhante, com banqueta e abajur de pé restaurado pelo arquiteto à partir de antigo secador de cabelos comercial. O banheiro da suíte recebeu porta de vidro em estrutura metálica, piso em mármore, box de vidro incolor, banheira em resina, e bancada em pedra com bojo de sobrepor, montados em estruturas de aço tubular com roldanas em estilo industrial, desenho do arquiteto. Sobre esta montagem, belíssimo espelho clássico com moldura dourada.

A vedete do loft, entretanto, foi a forração interna dos contêineres com chapas cimentícias BRASILIT. A versatilidade do produto permitiu um alinhamento perfeito na forração, sem utilização de juntas ou pintura, em acabamento final, com excelente custo/benefício. Destaca-se que as placas cimentícias foram utilizadas para forração da maior parte do projeto, em salas, quarto, banheiros e área de serviço. As placas foram parafusadas em perfis de aço, com parafuso de cabeça sextavada aparente, com alinhamento horizontal e vertical, gerando um “ritmo”. A cor acinzentada das placas reforçou o estilo industrial do loft, mantendo a sua elegância e proposta original. Por Cioli Stancioli.